Dentro do quarto

E subiu ela, e o deitou sobre a cama do homem de Deus; e fechou a porta, e saiu.” (2 Reis 4:21)
Poucas coisas refletem tão bem a intimidade de uma pessoa quanto o seu quarto. Ali repousa aquilo que é de mais privado e pessoal, o quarto de alguém geralmente é de acesso sobremaneira reservado, de modo que, na maioria dos casos, somente aquelas pessoas que gozam da sua mais alta confiança possuem acesso irrestrito àquele ambiente. A reserva não é sem motivo, afinal, dentro do quarto normalmente são armazenados objetos íntimos, as pessoas se despojam de maiores pudores, uma vez trancada a porta, a sensação de tranquilidade é automática, há certo grau de segurança de que àquele lugar ninguém terá acesso, além do seu dono.
A Bíblia traz um comovente relato no quarto capítulo do segundo livro dos Reis, a história de uma importante mulher que morava em uma cidade chamada Suném. Não há registro do seu nome, ela apenas é chamada de “sunamita”, era casada e tinha um único filho, o qual fora concebido conforme uma profecia do “homem de Deus”, o profeta Eliseu. Porém, num dia comum, o garoto saiu para acompanhar seu pai numa jornada de trabalho, contudo, sentiu uma forte dor de cabeça e retornou à sua mãe, que acompanhou seu lento sofrimento, até que, no início da tarde, viu o menino falecer.
Eis o aterrador cenário, a perda do único filho de uma mulher que, milagrosamente, concebeu, apesar de sua esterilidade, não seria surpresa se o desespero ou a depressão tomassem conta daquela mulher de modo arrebatador, o pranto, o choro, o estado de choque seriam reações esperadas diante daquele evento… Porém, de modo surpreendente, ela apenas tomou o menino, trancou em um dos quartos da casa e agiu como se nada estivesse acontecido. Havia tanta frieza na atitude da sunamita que houve nela a serenidade de pedir que o marido separasse um jumento para que fosse ao “homem de Deus”, e, quando perguntada pelo esposo o motivo da visita repentina ao profeta, apenas respondeu: “Tudo vai bem”.
Ocorre que, por óbvio, as coisas não estavam bem, dentro de um dos quartos havia o cadáver do seu único filho, mas, por que esconder essa situação?
Muitas vezes conduzimos nossa vida da mesma maneira, apesar de toda aparência de uma vida de satisfação plena, de elevo espiritual, ausência de crises, não raro repousa em algum lugar de nossos corações, trancafiado a sete chaves, um forte sinal de morte espiritual. Talvez, por trás do homem ou mulher de espiritualidade elevada, exista um jovem promíscuo que se reprime por medo de chocar os que o cercam; por vezes, dentro do esposo exemplar, sem que ninguém tome conhecimento, existe um adúltero encarcerado em algum lugar do coração; por baixo da capa de uma mulher que vive em prática de oração, ninguém sabe, mas pode viver uma pessoa egoísta, vaidosa e incapaz de perdoar… Enfim, todos têm segredos inconfessáveis, todo mundo tem um lado de si do qual não se orgulha, comumente esse “filho” é repreendido na clausura de um quarto escuro do coração, é muito comum que pessoas levem uma vida aparentemente estável, mesmo com um interior praticamente morto, sendo que, ao invés de buscarem o adequado tratamento para suas feridas, optam por estampar a falsa imagem de que “tudo vai bem”.
O grande problema é que é muito difícil, ou praticamente impossível, sustentar uma mentira tão relevante por muito tempo, em algum momento você se sentirá cansado da vida teatral que tem levado. No caminho de encontro com o homem de Deus a sunamita se deparou com o ajudante do profeta, Geazi, que a perguntou se tudo estava bem com ela, com seu marido e com seu filho, e sua resposta foi: “Vai bem”. Percebam que anteriormente a resposta havia sido “tudo vai bem”, mas nesse momento ela apenas respondeu “vai bem”, a intensidade da expressão estava diminuindo, porque suas forças também estavam acabando, não havia como esconder aquela situação por muito tempo, em algum momento o cadáver do menino começaria a exalar o mau cheiro, assim ela teria de enfrentar aquele evento do qual tanto fugia, então o que fazer?
A sunamita foi aos pés do homem de Deus e chorou, expressou toda a amargura que havia dentro de si, e para ele toda a verdade foi contada, com toda a sinceridade de uma mãe em desespero, ela recorreu àquele que no passado entregou a profecia segundo a qual seu ventre estéril pôde gerar um filho. Importante ressaltar que, para nós, Jesus é o homem de Deus, e diante dEle não há necessidade de fingir, escolher palavras para uma oração bem formulada, aparentar uma falsa situação de que “tudo vai bem”, não, aos pés de Jesus você pode chorar, a Ele você deve se confessar, expor suas dúvidas, se derramar em sinceridade. Geazi tentou apartar a sunamita, mas o profeta mandou que ele a deixasse, pois estava amargurada, do mesmo modo, aquele que vai a Jesus de nenhuma maneira será lançado fora! (João 6:37)
Após isso, eis uma situação curiosa: O homem de Deus concede ao seu ajudante o símbolo de sua autoridade, o bordão, e ordena que o objeto fosse colocado sobre o menino, porém, após cumprir a ordenança, Geazi retorna e diz: “O menino não despertou”. Muitas vezes nos decepcionamos com pessoas autorizadas por Deus, líderes que possuíam a autoridade do “Homem de Deus” (Jesus) e que buscaram nos ajudar, oraram, aconselharam, mas “o menino não despertou”, nada aconteceu… Há situações em que não basta a oração do pastor, o conselho do líder, a intercessão dos pais, ou a imposição de mãos de uma autoridade religiosa, é preciso que haja um encontro pessoal com o homem de Deus!
E isso foi buscado pela sunamita, ela não se apartou do profeta, mesmo quando Geazi saiu a pôr o bordão sobre o menino. Então o Eliseu, o homem de Deus, foi até a casa dela e se debruçou sobre o menino, deitou sobre a sua carne, braços nos braços, cabeça com cabeça, pés com pés, se colocou sobre o corpo do menino.
Isso me traz à mente um grande problema diário, eu sou advogado e uma difícil situação que enfrento no exercício da profissão é o fato de o judiciário estar abarrotado de processos tão importantes quanto os meus, por isso há demora e defeito nas decisões, razão pela qual, muitos casos são despejados na chamada “vala comum”, decisões em padrão para casos distintos e a clara sensação que o juiz sequer leu meu processo… Jesus trata diferente, assim como Eliseu fez com o menino, Ele se debruça sobre sua causa, se importa com seu problema, não aponta o dedo diante de suas crises, conhece cada oração, recolhe todas as lágrimas, sabe o que está escondido no quarto escuro do seu coração.
Feito isso, a carne do menino aqueceu! Problema resolvido? Não, o menino continuou morto! Nesse ponto repousa o motivo da decepção de muitas pessoas, confiam em Deus, recebem dEle um sinal, se entregam em sinceridade, mas o problema continua existindo!
Aqui é necessário esclarecer uma questão de maneira bastante didática: Jesus não é uma fada madrinha! Ele não seria leviano de modificar algo que está enraizado em sua essência e é parte da sua natureza em um simples passe de mágica, isso não seria transformação ou libertação, seria imposição! Eliseu, após ver que a pele do menino havia aquecido, saiu e passeou pela casa, e, quando retornou ao quarto, o menino foi acordando, até dar sete espirros e abrir os olhos!
A Bíblia compara o relacionamento de Jesus com Sua igreja a um casamento, por isso que em Apocalipse 19:9 João ouve uma voz semelhante a um trovão, que dizia “Felizes são os que são convidados para o casamento do Cordeiro!”. Jesus se coloca como um noivo, e nós, sua igreja, membros de um corpo invisível, somos como Sua noiva, é por isso que o relacionamento que Ele estabelece conosco é duradouro. Conheço minha esposa há cerca de seis anos e ainda hoje ela não perde a capacidade de me surpreender, sempre descubro coisas novas sobre ela e me encanto ainda mais, com Jesus é a mesma coisa, Ele não quer ser apenas um “casinho” ou um “ficante”, Ele quer casar com você, fazer com que, dia após dia, você descubra coisas novas sobre Ele, Jesus quer passear em seu coração, estabelecer laços duradouros, Ele não quer sua companhia apenas por um domingo, Ele nos quer inteiramente e diariamente.
Assim, em cada dia que você deixa que Ele passeie em sua companhia aquele cadáver já em decomposição que está dentro de um quarto escuro no seu coração pode começar a despertar, talvez ainda ocorram sete espirros em sinais gradativos de que Jesus está operando sua grande libertação, portanto aguarde em oração e não desista, enquanto você persevera Jesus caminha pela sua casa, visita a sala de estar, modifica os móveis da cozinha, arruma a varanda, e, então, retorna ao quarto, ao foco do seu problema, por isso, abra o seu quarto ao Homem de Deus, se hoje você chora pela situação de morte, dentro em breve poderá se alegrar ouvindo de Jesus o que a sunamita ouviu de Eliseu: “toma o teu filho vivo”!
Em Cristo

Saulo Daniel Lopes

Esse Post abençoou o meu dia, espero que faça o mesmo por você.
Encontrei ele no site do JesusCopy, confere lá! 

Unknown

Um comentário:

  1. Muito bom amei Tai. Amo esta história da Sunamita.

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