Carta para o futuro

   


Para as futuras gerações de Ministérios e Cias de Danças das Igrejas Evangélicas,

    Queridos irmãos em Cristo, 

   É com muita alegria que escrevo esta carta, contando um pouco a respeito de um tempo que muitos de vocês desconhecem, mas para mim é prazer relatar um pouco das conquistas, desafios e muitas histórias para que hoje pudessem ter o espaço da dança em nosso segmento. 
   Sou de um tempo onde a nossa arte, em específico a dança não podia fazer parte da liturgia, cultos e programações. E posso dizer sem reservas que tive a alegria de ver aos poucos esta arte tão linda entrar em nosso espaço. Não entendo ao certo porque não se pôde dançar, mas também compreendo que tudo tem seu tempo certo para acontecer.



   Deixa eu contar pra vocês, em particular vivi algo peculiar, a nossa família começou a frequentar a Igreja Batista quando eu tinha 9 anos, e muito criança convivi com esse universo de amor a Deus e fraternidade, porém, por outro lado, na Escola Fundamental sempre convivi com as artes, nunca vou esquecer o papel especial que a Escola Parque teve em minha vida por me proporcionar a oportunidade da fazer arte, mesmo sendo de família pobre e sem condições para estudar a dança, teatro e artes. Lá conheci a dança Afro-brasileira, o Jazz, o Balé clássico que desde pequena sempre sonhei em fazer, contudo não tivemos como pagar, conheci o balé moderno e assim a dança entrou em minha vida. O que fazer então? Se eu vivia em dois ambientes? Como não levar esse corpo que dançava durante toda a semana na escola para igreja nos fins de semana? 
  Como toda adolescente dentro da igreja sempre fiz parte de grupos e por ser bastante comunicativa, sempre era escolhida para fazer alguma participação teatral ou algo assim, por falar nisso, o teatro era um ponto que sempre atraia os jovens nas igrejas e não tinha como não acontecer em grupos e programações. 
  Um belo dia em uma programação de Jovens e Adolescentes, um grupo de outro estado se apresentou fazendo uma coreografia de suas canções, mas aquele momento ainda não foi crucial em minha vida, porém me fez pensar que a dança era sim possível em nosso meio. O momento que me marcou foi anos depois quando participei de um congresso onde muitas denominações de igrejas evangélicas participavam, onde fiz parte da encenação de abertura, e durante o processo de ensaios foi nos apresentado uma bailarina que tinha entrado a pouco tempo na igreja. Sim, houve o momento   em que eu quis essa dança, foi quando essa bailarina dançou naquele altar, o que posso falar dessa dança?  Posso te dizer que hoje vi naquele corpo traços de balé clássico, mas também vi uma dança que não tinha visto em nenhuma escola de dança das técnicas que apreendi, hoje posso lhes dizer que aquela dança era uma verdadeira adoração a Deus.  Aquela dança agradecia a Deus, amava a Deus, tinha algo encantador que marcou uma adolescente de 13 anos no inicio da década de 90, que ainda não sabia como lidar com os intemperes da vida.


  E hoje o que posso lhes contar, que depois dessa experiência marcante, comecei a traçar um novo caminho a respeito desta dança dentro deste ambiente desafiador que é a igreja. No ínicio houve resistências e dificuldades, como em tudo na vida, mas nada que não nos impedisse de prosseguir. Os desafios da evolução de uma geração foram cruciais para modificação e aprimoramento neste sentido de aceitação e inserção neste novo contexto de igreja se assim posso chamar, isso ficará para uma outra carta. 
   Só quero dizer que tudo que aconteceu e vem acontecendo ao longo desses 25 anos da trajetória da dança dentro das igrejas, só vem reafirmar o papel da arte na sociedade - e como a multiplicidade pode adorar a Deus.  Espero que possamos conversar diversas vezes e que a cada conversa venhamos a contribuir para a expansão da Dança em nosso meio. Certa que esta será a primeira de muitas cartas me despeço com um grande abraço. 


Cíntia Sant'Anna 

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