Sonhos não envelhecem

Portanto, também nós, visto que temos ao redor de nós tão grande número de testemunhas, pondo de lado todo impedimento e o pecado que se nos apega, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, fitando os olhos em Jesus, Autor e Consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe foi proposto, suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está sentado à destra do trono de Deus.
(Hebreus 12.1-2)


DESTACO a última folha do calendário. Lá se vai o 31 de dezembro. Para trás ficam as experiências vividas, os planos concretizados e também os sonhos desfeitos. Pouco a pouco, viram-se as páginas da vida, e o que tenho em mãos é um belo álbum de fotografias.
Por um momento vem à mente a pergunta: “Valeu à pena tudo o que foi vivido até aqui?”. Não sei se minha alma é grande ou pequena, para que ela mesma faça a vida valer. Creio que maior que minha alma é o sopro do Senhor da minha vida. Preciso aprender, ao estilo Walter Benjamin, o movimento sutil de lembrar e esquecer as coisas do passado, pois essa é a grande arte. Não só lembrar o que é bom, não só esquecer o que é ruim, mas permitir que Deus trate e cure as feridas marcadas na memória. Libertar-se do que foi bom, para que Deus possa abrir caminho em nós para o melhor.
O ano novo convida a olhar para frente, e é isso mesmo que farei agora, crendo que Deus estará comigo em cada dia desse novo ano que vai começar. Com Ele, viverei novos sonhos, novos desafios, novos trabalhos e mesmo novas ilusões. O que importa é que Ele, que começou boa obra em mim, há de continuar do meu lado, o grande parceiro da minha vida.

O grande desafio deste dia talvez não seja o de olhar para trás e fazer balanços nem olhar para o futuro e fazer projetos, mas aprender a olhar para Jesus, em quem se funde misteriosamente o passado, o presente e o futuro. Quanto a mim, desejo começar este novo ano com o Senhor e tentar viver cada dia nessa decisão. Que Ele tome os meus dias, que escreve neles a sua vontade. Que Ele me deixe o seu recado e ensine-me a perceber sua presença perto de mim, dentro de mim e no mundo ao meu redor.

Dietrich Bonhoeffer, que enfrentou como ninguém tempos sombrios e que assumia uma postura otimista diante da vida, afirmou certa vez que “[o]timismo, entretanto, não é essencialmente uma opinião sobre a presente situação, mas representa uma força vital, uma energia de esperança, onde outros resignam, uma resistência de manter erguida a cabeça, quando tudo parece fracassar, uma força que jamais entrega o futuro ao adversário, mas o reclama para si”. É isso, uma santa teimosia, um não entregar-se à tristeza e ao pavor.

Uma canção emblemática dos anos 1970 falava da passagem do tempo e do futuro: “Clube da Esquina”, uma composição de um trio de músicos inesquecíveis – Lô Borges, Milton Nascimento e Márcio Borges. Nessa canção, o poeta fala de alguém que um dia foi jovem, alguém que “se chamava moço”, mas que “[t]ambém se chamava estrada / Viagem de ventania”, isto é, processo, movimento, um ser incompleto que “[n]em se lembra se olhou pra trás / Ao primeiro passo”. Mais adiante na canção se ouve a famosa frase: “também se chamavam sonhos. E sonhos não envelhecem”.

REFLITA

“O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro” (Mia Couto).

Texto do E-book: O menino e o reino de Glaudir Cabral e João Leonel

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